segunda-feira, 11 de julho de 2011

Posologia.

Nascia ali mesmo, em meio a aberrações extremamente comuns aos olhos.

De forma alguma enxergariam o que realmente os cercava. Era um plano de quase duas décadas, um plano muito bem arquitetado, um plano que ninguém um dia sequer ousou, mesmo que hipoteticamente, fazer menção.

Rápida é a queda quando o declive é muito acentuado, rápida até demais.

Histórias e contos de fadas ficam em nossos travesseiros, nos castos que nos enlaçam enquanto ainda somos, diferentes, simplesmente diferentes.

Vidros quebrando, correntes sendo arrastadas, gemidos de dor, o barulho da carne sendo perfurada, ouvidos sensíveis.

Pena que isso era apenas o que os ouvidos captavam, o que os olhos viam era indescritível, aterrorizantemente indescritível. A soma dos corpos que ali estavam, resultavam num genocídio.

A prescrição médica dizia que haveria chuva naquela manhã. O rádio transmitia um noticiário completamente mudo. A televisão, melhor nem tentar explicar.
E quem sou? Acho que fui um soldado há umas duas décadas atrás. Os destroços da guerra do dia a dia ainda ecoam em mim, oriundam de entranhas profundas. O plano maquiavélico fora eu mesmo quem arquitetou, um plano perfeito demais para sair desse minha mente corrompida.

Afinal, eu sou apenas resquícios nostálgicos de pequenas lembranças.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Perda de tempo.

Simples; simplesmente complexo demais para que compreenda.
O que outrora era, nuca mais virá a ser. Este tempo cronologicamente descompassado, açoita os sonhos mais singelos e delicados.
Vil, desumana, desgraçada e covarde é a carnificina sentimental destes pequenos olhos brilhantes.
Um silêncio ensurdecedor na escuridão da noite, iluminada apenas por uma lâmpada de 60 watts piscando de forma intermitente. Um frio demasiado forte e um tanto quanto estarrecedor.
Pobres criaturas.

21:27 hrs, um tempo cronologicamente descompassado que jamais, eu digo JAMAIS, será esquecido.
Um longo caminho a seguir, pois nada pode parar (e essa é a infeliz lei da humanidade). Um caminho que nunca mais virá a ser como realmente havia de ser.
Perdera o que mais precioso e raro possuía. O sonhos singelos e delicados deram lugar a aterrorizantes pesadelos, que atormentam-lhe durante o dia e a noite. Carrega uma cruz desproporcional ao seu tamanho.

Ninguém sabe o quão difícil é.
Pobres coitados.

Não mais vive, perece nos cantos, esbarrando e se arrastando pelas paredes imundas, manchadas de sangue, rabiscadas com o que acontecera as 21 e tanto daquela merda de dia.
E é tão estereotipado clamar por um porquê. Já que é assim, exatamente assim, que acontece acerca de nós.
E o próximo? Quem se importa, não é mesmo?

E a culpa é unica e exclusivamente de vocês: humanos.

Pobres humanos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Introspecção.

...Mergulhara...

Um piscar de olhos fora o tempo de sua queda. Tão rápido cai aquele que se vê acima de si próprio.
"Do teu fracasso eu sei, de nada."
Tudo que um dia construíra vira agora ruinar aos seus pés.

A ingraditão suavemente o empurrara ao tal mergulho. Um mergulho metaforizado em teu próprio ser.
Um ser inóspito, onde alma sequer poderia viver. Ao contrário de nós ele nunca pensara com o coração, levava a frente uma espada que feria sem nem mesmo ter de tocar.

Teus joelhos jamais curvaram-se diante de algo ou alguém; teu olhar nunca ultrapassara a linha delimitada abaixo dos mesmos.

Narcisista que era, parara, uma noite dessas, em frente ao espelho. Contudo, desta vez, olhara-se de uma forma diferente. Compenetradamente via  fundo o seu olhar, num impulso quisera ouvir seu coração.

Silêncio, silêncio, silêncio, silêncio!
Um silêncio gritado, agonizante, barulhento, ensurdecedor.

Pois bem, colocara a mão carinhosamente do lado esquerdo do peito, tentando assim, mesmo que ligeiramente suave, sentir uma palpitação de um órgão a que só agora ele dava um minuto de atenção que fosse.

..., ..., ..., ..., ..., Tum!
Uma batida leve e descompassada, bem como uma criança aprendendo a caminhar.

Mas enfim, um sorriso tímido, daqueles em que os dentes evitam ao máximo aparecer - se é se pode chamar de sorriso- mostrara que ainda havia esperança... ou não!

Aquele minuto, infame minuto, olhando em direção ao espelho não o fizera ceder.
Assim seria desde o começo de sua vida.
Predestinado, estava ele, e o dia que viria.

Já não mais, o tempo era escasso.

Uma dor arrebatadora, um momento irreversível.
Num impulso levara a mão ao peito. Tudo congelara acerca de si, para que ele tivesse a certeza de que:

..., ..., ..., ..., ..., ...!

Cessara sua última palpitação descompassada.

...Mergulhara...

Mais um ser que nunca pensara com o coração!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Amoribundo.

Quatro metros quadrados e quilômetros de um vazio dentro.

Nunca fora tão difícil para Ele estar ali. Segundos atrás, um lugar vívido, agora; inóspito. Nunca estivera tão agregado a um ser.
Somente, todos nós sabemos o quão dolorido é o sentimento de vazio, e nós todos somos repletos de vazios, falhas, rasgos, furos e dor que colecionamos ao longo do tempo.

Sim; Ela o abandonara.

As estações daquele ano tornaram-se uma só, não havia calor nem sequer frio. Não existiam folhas, tampouco galhos descobertos donde as mesmas pudesse florecer.

Assim se sucederam os longos e intermináveis dias.

Quinze de janeiro, prazo estipulado pela dor, Ele sentia que já não era possível ir adiante. Sequer tinha coragem de tirar a própria vida.
Contratara um especialista há uns três dias para fazê-lo feliz. Mesmo assustado com a proposta, o dito especialista a aceitara, de certa forma motivado pelo dinheiro.
Como de costume o especialista se desculpara com Deus na noite anterior e logo após escolherara apenas um faca de cozinha e a deixara perto da roupa que vestiria na manhã seguinte.

Quinze de janeiro, Ele não conseguira dormir um segundo sequer, os olhos estagnados, fixados num retrato d'Ela sorrindo.
Ouvira um barulho na porta do quarto - Ele estava preparado - estava virado para a janela e poupou-se de olhar para trás.
Sentira uma mão gélida tocar sua nuca, fechara os olhos com tanta força que fez com que eles doessesm.
Um segundo...
Dois segundos...
Três segundos ...
Não entendia a razão da demora. Contudo um rosto encostara em seu rosto e Ele sentira uma respiração ofegante que lhe era familiar.

Ela voltara.

Braços atados e enlaçados, um abraço caloroso e silencioso de quase trinta minutos.
E quanto ao especialista; ele soubera desde o início que ainda não era hora d'Ele.

Na parede, em cima da cabeceira da cama, rabiscado na noite seguinte os seguntes dizeres:
" Eu não sei falar de amor, afinal, eu sempre soube que ele não fora feito para ser dito. Eu o digo, sentindo-o através de ti, eternamente".

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A tão natural discórdia.

Um clarão, desenhado em milhões de volts, corta o céu e atinge o solo esburacado. Segundos depois como não poderia deixar de ser, um estrondoso trovão apresenta-se. Dizem que não há nada mais silencioso do que o barulho de um. Dessa vez não fora assim.

Um grito agudo e feminino, parecido com o de uma criança, quebrara tal silêncio. Dera a impressão de que fora ouvido por muitos, há muitos quilômetros de distância.
Um anuncio de que a tempestade viria, caminhava ela vagarosamente, sem se importar com o estrago que viria a fazer.
Como dizia um velho sábio, nem sempre depois da tempestade vem a bonança.
A cor do céu anunciava que a bonança estava um tanto quanto longe, concretizando assim, os dizeres do sábio.

Enfim, nascemos desprotegidos, e desprotegidos viveremos até o fim.
Não há nada mais sanguinolento do que o ser humano.
Fere, de forma vil, com as palavras que por vezes profere e as cicatrizes jamais surgirão; são feridas que permanecerão abertas para sempre.

Sentimentos; quaisquer os forem, são o maiores problemas que possuímos, nós todos os fracos e pecadores, sem excessão de uma alma vivente sequer.
Raras vezes demonstram sua nobreza.
Raras vezes não magoam ninguém.


Somos todos raios, que caem "seguindo o decontínuo passo do destino".
Notória demagogia dizer que o homem é naturalmente bom; somos todos vis, sanguinolentos.

Baluartes da discórdia.

Prenúncio do fim.

Os olhos compenetrados; as mãos esperando o momento certo; a mente maquinando como seria o ataque; o corpo imóvel mimetizado e o suor escorria por ambas as têmporas.

O alvo movimetava-se de um lado ao outro sem sequer imaginar o que lhe aguardava. Eis, a seleção natural. 
O maior sempre é o mais forte. E a sabedoria é essencial à sobrevivência.
Interessante ver que em milésimos de segundos perde-se anos vividos.
O destino não é nenhum pouco incerto, não há mais nada tão sabido quanto ele, predestinado.

Num ponto em que já não há uma escapatória, ele debate-se em seu próprio interior. 
Antes da morte, nenhum filme passa pela cabeça, o medo é tão maior quanto ao ato de conseguir pensar em alguma coisa. 

Desde o ato de nossa concepção, passamos a viver o prenúncio do fim.
Nos matamos pouco a pouco. Alguém, apenas nos liquida na hora correta.

Com ele não foi diferente.
Os olhos cheios de ódio; as mãos hábeis para matar; a mente fria e calculista; o corpo executor deram a cartada final.

Sem mais delongas, oremos, oremos por mais este.

                                                         

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Desvínculo.

Um olhar distante e úmido, as lágrimas sequer tinham força para cair.
Um corpo imóvel, em meio a toda aquela gente que ia esbarrando no franzino saco de ossos.
Uma mente atordoada, sem conseguir processar os pulsos, inúmeros pulsos enviados pelo sistema nervoso.
Um coração apertado, agonizando frente ao medo.

Sensações estas objetivadas pela perda, o desvínculo vital.
Acontecera ali mesmo, a poucos instantes. A estação de trem, tão cheia e ao mesmo tempo tão solitária, sempre reserva fatídicas surpresas.
Um pequeno garoto que sentiu suas mãos deixarem de existir, e um turbilhão de tormentos tomar conta.
Barulhos estridentes, vozes indecifráveis, vultos por todos os lados.
Um relógio acima de sua cabeça, uma escada bem ao leste, a bilheteria no pé da escada.
Ele já não tinha mais ninguém e isso precedera aquela cinestesia já transcrita.

Em instantes um lugar inóspito.
A sua frente, um trilho; vindo ao longe, um trem.
Não lhe restara escolha.
Mergulhou num impulso, de certa forma fugaz.